sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O bem que fizermos aos outros é a moeda que circula no Além


A Liturgia da Palavra deste 26.º Domingo do Tempo Comum, Ano C, centraliza as nossas reflexões no uso dos bens terrenos em proveito do bem comum, em especial para com os mais carenciados. As palavras do Profeta Amós e a parábola do rico avarento e o pobre Lázaro, evidenciam o contraste da atitude egoísta dos ricos que não se importam com a miséria dos pobres nem nada fazem para minguá-la; São Paulo recomenda a atitude contrária, característica do «homem de Deus»: «pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão».
Amós desenvolve a sua actividade profética no reino de Israel durante o reinado de Jeroboão II (767-747 a.C.), num tempo de prosperidade, riqueza e luxo para as classes dominantes, mas também de profundas desigualdades económicas e de preocupante hipocrisia religiosa. Será pura coincidência com a realidade do mundo em que vivemos!
O que caracteriza estes “notáveis” é a sua tranquila arrogância, descuidada e autista. As escavações arqueológicas confirmam os pormenores relativos ao luxo em que viviam: leitos de marfim, grandes taças... As festas e delícias em que vivem descuidados encobrem um grande vazio: ninguém pensa no futuro, ninguém interpreta os sinais de alarme que se adensam.
Em 722 a.C. os exércitos de Sargão II destruirão a Samaria e deportarão “o bando dos voluptuosos” para a Assíria e Mesopotâmia, pois não fizeram caso ao profeta. Mas das suas ameaças emerge uma mensagem convergente com a do Evangelho: a vida mundana, a saciedade, o luxo ofendem a inteligência e tornam-na cega aos avisos da história. Aí se enuncia qual será a sua justa recompensa!
O texto paulino, da carta a Timóteo, responsável pela condução da comunidade cristã de Éfeso, apresenta todo um programa de vida para aquele que queira ser «homem de Deus»: diante de Deus, praticar a justiça a piedade, a fé e a caridade; para com o próximo: viver em caridade, paciência e mansidão. O objectivo é claro: «Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna».
A parábola contada por Lucas, dirige-se aos discípulos e cristãos da comunidade primitiva e de todos os tempos.
Estamos perante um díptico (duplo quadro) a que corresponde um drama em dois actos. No primeiro quadro do díptico, o rico goza e o pobre sofre; no segundo, a situação inverte-se completamente.
A caracterização do rico é incisiva: vive entregue aos prazeres da mesa, veste-se de forma extremamente refinada e cara (melhores marcas) e não presta a mínima atenção para com o pobre que jaz à sua porta e que, porventura, até conhece (“chamado Lázaro”). Até os cães têm mais piedade do que ele do pobre faminto e chagado.
Com a morte, as situações invertem-se: quem vive na opulência, indiferente ao sofrimento do irmão que pode aliviar, com o seu egoísmo está a cavar o abismo da incomunicação que o excluirá da consolação e felicidade do reino dos céus, na comunhão com o mesmo Deus e com os irmãos.
Seguidamente os textos litúrgicos.

Leitura da Profecia de Amós
(Am 6, la.4-7)

Eis o que diz o Senhor omnipotente: “Ai daqueles que vivem comodamente em Sião e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria. Deitados em leitos de marfim, estendidos nos seus divãs, comem os cordeiros do rebanho e os vitelos do estábulo. Improvisam ao som da lira e cantam como David as suas próprias melodias.
Bebem o vinho em grandes taças e perfumam-se com finos unguentos, mas não os aflige a ruína de José. Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados e acabará esse bando de voluptuosos”.

Salmo Responsorial (Salmo 145 (146) 7-10.

Refrão
Ó minha alma, louva o Senhor

O Senhor faz justiça aos oprimidos, / dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos, / o Senhor levanta os abatidos, / o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos, / ampara o órfão e a viúva / e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente. / O teu Deus, ó Sião, /é Rei por todas as gerações.

Leitura da Primeira Epístola de
S. Paulo a Timóteo (1 Tim 6. 11-16)

Caríssimo: Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé perante numerosas testemunhas. Ordeno-te na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos: Guarda este mandamento sem mancha e acima de toda a censura, até à aparição deNosso Senhor Jesus Cristo, a qual manifestará a seu tempo o venturoso e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele a honra e o poder eterno. Amen.

Aclamação ao Evangelho

Aleluia, Aleluia, Aleluia!

V: Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza.

Evangelho de Jesus Cristo
segundo São Lucas (Lc 16, 19-31)

Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: “Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas.
Ora sucedeu que o pobre
morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me
refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’.
Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és ator- mentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna - pois tenho cinco irmãos - para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’.
Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’.

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