domingo, 21 de agosto de 2011

O papel da Igreja

Santuário de Fátima recorda apelo do Papa na JMJ : Não tenhais medo de dar testemunho de Cristo

“A Igreja não existe para ficar a olhar para o céu”, afirmou o Reitor

Termina hoje a viagem apostólica do Papa a Espanha. “Esta manhã, aos milhares de jovens reunidos em Madrid, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Papa Bento XVI dizia que é impossível encontrar Jesus Cristo, reconhecê-Lo como o Filho de Deus, e não sentir a necessidade de O levar aos outros; e não sentir o imperativo de levar outros a connhecê-Lo e encontrá-Lo”, recordou esta manhã em Fátima, o reitor do Santuário de Fátima.

“Se Cristo é o centro da nossa vida, não podemos não O testemunhar, não O comunicar, não levar outros a fazer essa experiência feliz da Sua presença na nossa vida”, concluiu o Padre Carlos Cabecinhas na homilia desta eucaristia internacional, largamente participada.

O Reitor reiterou o apelo hoje lançado aos jovens pelo Santo Padre: “Não tenhais receio de dar testemunho de Cristo”, e exortou os peregrinos em Fátima a serem coerentes com a sua fé.

“Uma fé que não é um mero saber intelectual, mas uma experiência forte de encontro com Cristo, capaz de transformar e marcar indelevelmente a vida”, disse.

O Padre Carlos Cabecinhas assinalou ainda que “a Igreja não existe para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do ‘Messias, Filho de Deus’; existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer”.

Sala de Imprensa do Santuário de Fátima

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Poder das chaves

Quarta-feira, 17 de Agosto de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo XXI Tempo Comum – Ano A
21 de Agosto de 2011
O poder das chaves
A Primeira leitura é muito interessante. Shebna, administrador do palácio, será substituído nas suas funções. Irá ser despojado das insígnias do seu poder (a túnica, o cinto, a chave do palácio), as quais serão revestidas por Elyaqîm. O novo administrador do plácio será Elyaqîm receberá, o “poder das chaves”. A corrupção e o mau uso do cargo, fizeram cair em desgraça o administrador infiel. O profeta quer lembrar que a autoridade, qualquer que ela seja, deve ser exercida como um serviço ao bem comum. Lembra que quem tem tal responsabilidade deve ser um pai para todos e deve procurar o bem de todos com solicitude, com amor, com justiça.
Na Segunda leitura, São Paulo diz-nos que Deus é sempre «mais» do que aquilo que o homem possa imaginar, mais sábio, mais poderoso, mais misericordioso e mais misterioso… A nós cabe-nos contemplar e acolher essa realidade. Todo aquele que tem autoridade deve com mais diligência procurar viver no seu cargo os valores que o Apóstolo nomeia. Eles são: a profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus… Com tais valores teríamos governos e todos as formas de autoridade verdadeiramente ao serviço de todos, muito longe da corrupção e da ganância. O poder não seria nunca mais uma tosquia frequente do povo, mas antes seria um bem, uma forma de criar felicidade, bem-estar, saúde, educação e condições condignas para o povo. Mas, o que vemos com frequência, de quem detém o poder das chaves, a má criação, o péssimo exemplo, a mediocridade, os desvios para alguns dos bens que são de todos… O poder, qualquer que ele seja, muitas vezes torna-se um ninho de ladrões, porque falta a consciência da responsabilidade e uma prática que pense em todos e não apenas nos amigalhaços.
O Evangelho, em primeira mão, Jesus é o Filho de Deus, reconhecê-Lo e confessá-Lo como tal é o elemento principal da fé cristã. É o que Pedro faz de forma convicta. Assim, Jesus considera Pedro como a «rocha» e confere-lhe o «poder das chaves». A Pedro, é conferido o «poder» maior do serviço na comunidade dos crentes em Jesus. Pedro assume todos os valores do poder-serviço que o profeta anunciou e São Paulo proclamou. Jesus nomeia Pedro para «administrador» da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (porém, atenção, todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino, mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos). Este discernimento compete a todos os que receberam a responsabilidade do anúncio da Boa Nova da salvação. Por fim, todos são envolvidos pela comunhão e a unidade do amor de Jesus, vivendo com coragem todos os valores apresentados pelo Evangelho relativamente ao «poder das chaves».
JLR

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Comentários à missa do próximo domingo

14 de Agosto de 2011
Domingo XX Tempo Comum
A Cananeia
A primeira leitura descreve o ambiente de Jerusalém após o regresso da Babilónia. O povo de Deus enfrenta uma época nada fácil. Os retornados estão desiludidos, pois a tarefa da reconstrução apresenta-se demorada e difícil. O país está arruinado, as cidades destruídas e desabitadas, os campos incultos e abandonados. Os ricos bem depressa começam a oprimir os pobres e a esmagar os humildes. Quanto à religião há uma recusa de Deus e dos seus planos e o recurso a práticas totalmente pagãs.
A essa comunidade desiludida e decepcionada, o profeta anuncia que está para chegar um tempo novo. Deus vai oferecer a Sua salvação a todos os povos, há uma clara viragem na fé de Israel, uma certa abertura à universalidade. Grande revolução no universo religioso do Povo de Deus.
Nos nossos tempos, por um lado, o intercâmbio de ideias, de experiências, de notícias, o contacto fácil, rápido e directo com qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo, contribuem para nos abrir horizontes, para nos ensinar o respeito pela diferença, para nos fazer descobrir a riqueza de cada povo e de cada cultura… Por outro lado, o egoísmo, a auto-suficiência, o medo dos conflitos sociais, o sentimento de que um determinado estilo de vida pode estar ameaçado, provocam o racismo e a xenofobia e levam-nos a fechar as portas àqueles que querem cruzar as nossas fronteiras à procura de melhores condições de vida… A Igreja é a comunidade do Povo de Deus. Todos os seus membros são filhos do mesmo Deus e irmãos em Jesus, embora pertençam a raças diferentes, a culturas diferentes e a extractos sociais diferentes. Nisto toda a mensagem bíblica nos ensina que Deus não faz acepção de pessoas. A salvação é para todos.
Na segunda leitura tirada de São Paulo podemos concluir o seguinte, a recusa de Israel fez com que o Evangelho fosse proposto aos gentios. Por isso, podemos dizer, há males que vêm por bem; Deus escreve direito por linhas tortas…
Os gentios, que antes estavam longe de Deus, agora tiveram acesso à sua graça; e os judeus, que agora se afastaram dos dons de Deus, hão-de também alcançar a graça. Parece enquadrar-se tudo no projecto salvífico de um Deus que permitiu que todos sejam rebeldes, a fim de sobre todos deixar cair a sua misericórdia. A misericórdia de Deus não abandona nenhum dos seus filhos. Este texto – implicitamente – convida a não nos arvorarmos em juízes dos nossos irmãos. Por um lado, porque o comportamento tolerante de Deus nos convida a uma tolerância semelhante; por outro, porque aquilo que nos parece estranho e reprovável pode fazer parte, em última análise, dos projectos de Deus.
No Evangelho, Jesus em ruptura com os fariseus e os doutores da Lei, “retirou-Se dali e foi para os lados de Tiro e de Sídon”. A recusa de Israel em acolher a proposta do Reino vai fazer com que a pregação de Jesus se dirija para fora das fronteiras de Israel.
Uma mulher fenícia (estrangeira, inimiga, oriunda de uma região com má fama e, ainda por cima, “mulher”) merecerá a graça da salvação?
Não admira, portanto, que os fariseus e doutores da Lei, defensores intransigentes da Lei e da pureza da fé, considerassem os habitantes dessa zona como “cães” (designação que, para os judeus, tinha um sentido altamente pejorativo).O apelo da mulher fenícia vai no sentido de que ela possa, também, ter acesso a essa salvação que Jesus veio propor.
No final de toda esta caminhada de afirmação da “bondade” e do “merecimento” desses pagãos que a teologia oficial de Israel desprezava, Jesus conclui: “Mulher, grande é a tua fé. Faça-se como desejas”.
O que é determinante, para integrar a comunidade do Reino, não é a raça, a cor da pele, o local de nascimento, a tradição familiar, a formação académica, a capacidade intelectual, a visibilidade social, o cumprimento de ritos, a recepção de sacramentos, a amizade com o pároco, os serviços prestados à “fábrica da igreja”, mas a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação).
O exemplo da mulher cananeia leva-nos a pensar, por contraste, nesses “fariseus e doutores da Lei” que rejeitam a oferta de salvação que Deus lhes faz, em Jesus. Estão cheios de certezas, de convicções firmes, de preconceitos; mas não têm o coração aberto aos desafios que Deus lhes faz… Conhecem bem a Palavra de Deus, têm ideias definidas acerca do que Deus quer ou não quer, são orgulhosos e auto-suficientes porque se consideram um povo santo, eleito de Deus, mas não têm esse coração humilde e simples para acolher a novidade de Deus…
Teoricamente, ninguém põe em causa que a Igreja nascida de Jesus seja uma comunidade aberta a todos os homens e mulheres, de todas as raças, culturas, classes sociais, quadrantes políticos…
Os homens e as mulheres, os casados e os divorciados, os pobres e os ricos, os instruídos e os analfabetos, os conhecidos e os desconhecidos, os bons e os maus, os novos e os velhos, todos são acolhidos na comunidade cristã sem discriminação e todos são convidados a pôr a render, para benefício dos irmãos, os talentos que Deus lhes deu?
Evangelho sugere uma reflexão sobre a forma como acolhemos o estrangeiro, o irmão diferente, o “outro” que, por razões políticas, económicas, sociais, laborais, culturais, turísticas, vem ao nosso encontro. Se Deus não discrimina ninguém, mas aceita acolher à sua mesa todos os homens e mulheres, sem distinção, porque não havemos de proceder da mesma forma?
Resumo dos comentários do Portal dos Dehonianos…